segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma força indescritível

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz.
Mateus 6:22



Há momentos em que basta um olhar para descortinar o que se passa. Um olhar compenetrado, afetivo, que rompe o egoísmo próprio de cada um de nós. Que traz consigo um verdadeiro bálsamo, verdadeiras propriedades curativas.

Fico a pensar na vida dos leprosos na época de Jesus. Estavam a margem da sociedade. Eram desprezados e até ignorados. O desprezo destitui o valor da pessoa, o ato de ignorar supõe a inexistência do existente. Ou seja, aqueles inúmeros homens e mulheres sentiam-se destituídos do mais simples contato humano, pois não eram mais considerados humanos – a nossa desumanidade desumaniza a outros.

Há vários relatos nas escrituras sagradas que apresentam leprosos que se aproximaram de Jesus. O evangelho de Marcos (1:40-42) relata que um homem leproso aproximando-se de Jesus lhe rogou: se queres, bem podes limpar-me. Jesus o olhou, isto é, o notou, contemplou sua dor, sentiu sua dor – “... Jesus, movido de grande compaixão... (1:41)”; a compaixão é uma tradução do original que traz a idéia de percepção de algo que faz mover as entranhas do observador e que se impõe de tal maneira que é impossível não agir.

Sabemos que Jesus agiu e curou aquele homem. Podemos pensar que o simples olhar, a percepção impregnada de amor, foi o primeiro contato que aquele homem teve com a cura. Embora nem sempre tenhamos as ferramentas para curar alguém – ajudar, auxiliar ou resolver seja o que for. Temos a nossa disposição o olhar carinhoso, que apresenta ao outro sua importância, o nosso interesse em suas dores, a nossa presença ao longo dela – numa disposição contínua para ajudar – e a nossa esperança na sua superação. Este tipo de olhar traz consigo uma força indescritível.

Um comentário: