terça-feira, 30 de março de 2010

O excelente caminho

Viver implica trilhar muitos caminhos, fazer escolhas. Quando éramos pequenos, nossos pais escolheram seus caminhos e nos levaram juntos. Todos nós trazemos conosco profundas reminiscências dos bons e maus caminhos dos nossos pais. Elas nos marcaram.

Existem pessoas que são muito gratas pelo seu passado, seus pais trilharam por bons caminhos em maior freqüência. Com certeza estas pessoas foram amadas, valorizadas, educadas, cuidadas e, por esta sorte, podem ser mais suscetíveis ao amor, ao exercício de bons valores morais e, se assim fizerem, certamente colherão bons frutos. Há aquelas que, infelizmente, acompanharam seus pais por terríveis percalços, por caminhos sinuosos e tenebrosos. Com tristeza constatamos que estas pessoas trazem consigo profundas cicatrizes e, não raro, profundas feridas. Elas podem ser mais suscetíveis a dar continuidade ao ciclo pernicioso ao qual seus pais estiveram presos.

Sabemos que ninguém trilha apenas caminhos bons, e também, que ninguém trilha apenas caminhos maus. Há uma verdade que se impõe: somos pecadores (Romanos 3:23; Romanos 6:23) e, por isso, erramos muitas vezes. É certo, entretanto, que decisões trazem conseqüências e, por conseguinte, marcas. Diante desta realidade somos iluminados pela palavra de Pedro: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho de Deus” (João 6:68-69). Conquanto tenhamos nossas marcas, sejam boas ou más, se descortina uma esperança: há um caminho excelente a ser seguido.

Certa vez aproximou-se de Jesus um jovem rico (Mateus 19:16-22) e perguntou: “Mestre, o que farei para ter a vida eterna?” Jesus retorquiu, “você tem seguido as orientações da lei: não matarás, não cometerás adultério, não furtarás...” Ao ouvir aquelas palavras o jovem se alegrou, “tudo isto tenho feito desde a minha mocidade”. Fico a pensar que aquele jovem foi muito bem criado pelos seus pais, eles lhe deram uma base para que ele, diante de Jesus, pudesse fazer tão significativa e verdadeira afirmação. No entanto, frustrando as expectativas do jovem, Jesus disse: “se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me”.

Em outro momento da sua vida, Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vos o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma” (Mateus 11:28-29).

A luz destes dois relatos entendemos que termos sido afortunados com boas famílias e o hábito de trilhar bons caminhos não é tudo. A bíblia diz: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mateus 16:26). Compreendemos também que a dor humana toca o coração de Deus e que ele certamente quer fazer daqueles que estão quebrados, vasos de honra; quer dar aqueles que estão em prantos, alegria, aqueles que são faltos de esperança, fé. Mas, embora seja vontade de Deus que a nossa vida seja dirigida por seus valores, ele quer que, sobretudo, nós possamos nos entregar a Jesus Cristo, pois este é o excelente caminho que traz cura a alma e que perpassa a nossa vida, nos conduzindo a eternidade.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Constatações II



Olho do meu lado esquerdo e vejo em cima da mesa um relógio, verde claro, tipo despertador e ouço o seu tique-taque. Você pode ouvi-lo, querido leitor? Penso sobre o tempo... Sobre tantas coisas boas do meu passado. Talvez você devesse fazer este exercício. Coisas simplesmente deleitáveis. Verdade... Deleitáveis e simples.


Lembro-me, difusamente, do momento em que ganhei a bicicleta vermelha dos meus pais. A imagem não está clara, mas eu sinto que aquele momento foi muito intenso. Andar naquela bicicleta, que me acompanhou por muitos anos, dava-me forte sensação de liberdade. Com ela ensaiei a coragem de um futuro homem... Pulando em rampas, descendo ladeiras, abrindo mão das rodinhas. Acredito que experiências infantis refletem, e muito, na nossa vida adulta.


Vejo-me brincando com minha mãe. Em um quadro que trago em minha mente e coração. Tinha 5 anos e pouco e minha mãe estava grávida já com uma enorme barriga. Ela fez uma bola de meias e nós brincávamos no quarto. Ela de um lado da cama, eu do outro, a cama era a “rede” e nós buscávamos fazer o ponto... Acho que o ponto não era o mais importante, e sim, o fato de estarmos ali, juntos, desfrutando o momento, rindo com o corpo e a alma. De repente, ela se encolhe e emite gemidos. Eu, de pronto – com coração acelerado – pergunto: o que foi mãe? E me aproximo dela pela cama para ver o que tinha ocorrido. Chegando perto, com olhos bem atentos... Percebo-a levantar-se bem rápido para fazer seu ponto. Diante daquela inusitada ação, irrompemos em risos.


Lembro-me da festa de são João. Meu pai sempre comprava fogos. Naquelas noites íamos para o jardim da nossa casa e brincávamos. Painho ajudando-me com a estrelinha... O fogo incita a imaginação e lá, naquele momento, havia a imaginação de uma criança, o conforto da segurança oferecido pelo seu pai e muito prazer. Minha memória alerta para o momento do vulcão. Meu pai colocava-o em cima do pequeno muro de nossa casa e, juntos, eu, minha irmã e mainha, observávamos atentos e ansiosos pelo espetáculo. Muitas crianças da rua também participavam daquele cenário, igualmente atentas. Em poucos segundos acontecia o show de luzes e formas... Era lindo.


Tantas coisas boas que passaram. Tantas coisas boas que podemos viver. Vivamos hoje! Tenhamos autonomia e coragem para escrever uma história que nos seduza e a muitos outros. Um passado que não aprisione, mas que motive a viver intensamente. Uma história atenta as palavras de Jesus: “eu vim para que tenham vida e vida em abundancia” (João 10: 10b).

segunda-feira, 8 de março de 2010

A pergunta de Neemias

A Bíblia conta que, num certo dia, alguns homens viajantes entram em uma cidade importante, chamada Susã. Lá estava uma das fortalezas do grande Artaxerxes, rei da Pérsia. Dentre estes homens havia um que era irmão de um importante servo do rei que se chamava Neemias, cuja função era o de ser copeiro do rei, ou seja, aquele que todos os dias estava diante do seu senhor alimentando-se antecipadamente dos manjares reais para que, se porventura, o alimento estivesse envenenado, morresse o servo e não o rei. A posição de Neemias era de inteira confiança. E, por isto, ele era cercado de toda riqueza real.

Encontrando-se com seu irmão e aqueles homens, Neemias pergunta: “Como estão os judeus que restaram do cativeiro e Jerusalém (Neemias 1:2)?” Ante a esta pergunta, eles respondem que os judeus estão em pobreza e desprezo e que a cidade de Jerusalém está assolada. Neste momento do diálogo é possível antecipar algumas situações.

Neemias poderia ter perguntado para suscitar uma oportunidade de se vangloriar diante daqueles conhecidos. “– Que pena, Jerusalém está destruída?! Os judeus que estão lá passam fomem?! É realmente uma pena... eu aqui, “graças a Deus”, estou muito bem... vocês sabem que sou copeiro do rei? Todos os dias sirvo ao rei comendo deliciosos manjares, também estou cercado de riquezas, sou realmente muito abençoado.”

Neemias poderia ter perguntado somente por educação. Semelhante a um diálogo bem conhecido de cada um de nós: “– Tudo bem? – Tudo bem.” Ou seja, uma pergunta completamente destituída de um compromisso com a resposta. Ainda mais, uma pergunta cuja resposta esperada é uma frase evasiva, que não comunica nada.

Neemias poderia realmente estar interessado na resposta da sua pergunta, mas não imbuído de responder a ela - há respostas que merecem ser respondidas. Se assim fosse, ele ouviria atentamente seus amigos e irmão e estaria disposto a entendê-los. No entanto, aquele conhecimento não fervilharia em seu coração, tornando impossível agir.

Neemias perguntou sinceramente e com um coração sensível. Ao ouvir as respostas dos seus conhecidos ele sentou, chorou, entristeceu-se, jejuou e orou ao Deus do céu (Neemias 1:4). Ações repletas de significado que, quando juntas, resultam em grandes transformações... Mas, sobre isto falaremos em outro texto.

terça-feira, 2 de março de 2010

Constatações

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Romanos 8:28
Em tudo dai graças. I Tessalonicenses 5:18


Ontem estive em um parque. Muito bonito. Sentado, observava absorto, um lago, repleto de patos, que desfrutavam do delicioso sol que os iluminava. Ouvia também o som vibrante e alegre de crianças, que brincavam do outro lado do lago. Havia naquele momento prazer, uma alegria indecifrável, mas que estava ali. Reconstruindo minhas memórias do passeio de ontem, lembro-me que aquele parque fora outrora palco de uma visita de descoberta, a nossa primeira visita. Eu e Kézia fomos descobri-lo. Sua imagem impunha-se fria, seu gramado repleto de neve, seu lago quase todo em gelo, os patos com pequenos movimentos, sem crianças, sem sorrisos, com pouca luz.

Acho que estas duas imagens podem ser usadas como metáfora da condição humana. Em algumas situações parece que nada pode nos impedir, somos auto-suficientes, capazes, saudáveis, admirados, felizes, vibrantes, enérgicos, enfim, estamos em meio ao belo parque da vida. Noutro momento podemos estar por baixo, tristes, faltos de energia, de saúde, de perspectivas, de possibilidades, enfim, aos nestas situações, o parque está gélido e fechado.


Todos somos frágeis. Há um nivelamento, todos, não um ou outro, partilhamos de uma fragilidade universal. O poeta sugeriu, “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Discordo. Tudo é passageiro. Assim como nas estações há lugar para o inverno, e também, para a primavera, semelhantemente é a vida.


Há sentido nisto tudo? Se, ao estarmos nas montanhas da vida, inebriados pela sensação de vitória, nos lembrarmos que “toda a carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva. Secou-se a erva, caiu a sua flor”(I Pedro 1:24); sim. Pois nossas vitórias são passageiras, mas, mesmo em sua fugacidade, podem se transformar numa ótima oportunidade de louvor a Deus e de prazer a ser desfrutado. Se, ao enfrentarmos as terras mais escuras e difíceis, nos lembrarmos e abraçarmos as palavras do salmista: “ainda que eu andasse pelo vale da sobra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo”(Salmo 23:4); sim. Deus sempre estará com aqueles que o buscam. E Ele tem uma capacidade incrível de transformar terrenos desolados em belíssimos jardins que atraem o sol, os mais belos patos, crianças, sorrisos e prazer.

No fim de tudo, computadas vitórias e derrotas, dores e prazeres, montanhas e vales, tenhamos conosco o mais importante, o que não se corrompe ou acaba, nossa conexão com o Pai, nossa fidelidade a sua palavra e, repletos disto, possamos em todos os momentos louvar o nosso Deus.